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O Experimento do aprisionamento de Stanford
O Experimento do aprisionamento de Stanford
Imagine que você está andando pelo campus da sua faculdade quando encontra um anúncio que promete te dar horas complementares e uma boa grana por dia para participar de um experimento.
Você, como todo universitário com pouco dinheiro e precisando das benditas horas complementares, nem pensa duas vezes. Até porque o experimento será conduzido por um renomado professor, então o que poderia dar errado?
Bem… tudo. 😬
Essa é uma história que envolve a polícia, abusos psicológicos e o entendimento humano sobre o bem e o mal.
De onde vem a maldade humana?
Em 1945, após a segunda guerra mundial, foi criada uma comitiva para julgar os crimes cometidos no conflito, que ficou conhecida como Tribunal de Nuremberg.
Quando foi a vez de julgar pessoas do escalão mais baixo por suas atrocidades, a maioria recorreu à mesma desculpa:
Eu só estava seguindo ordens dos meus superiores.
Basicamente, existiam pessoas em cargos mais baixos que executaram ordens terríveis mesmo aparentemente sendo “pessoas boas 😇” que participavam normalmente da sociedade.
Esses fatos reacenderam uma velha dúvida filosófica: O quanto uma pessoa pode ser influenciada pela maldade do ambiente ao seu redor.
Vamos testar
Foi isso que disse Stanley Milgram, um psicólogo judeu que tinha um grande interesse em entender as raízes psicológicas da barbárie nazista.
Foram recrutadas 40 pessoas sob o falso pretexto de participar de um “Experimento de Memória”. Eles pagavam 4 dólares por hora, o que na época era bom demais, então não foi difícil. 🤑
Na hora do teste, o examinador colocava o voluntário em uma sala na frente de vários botões. Do outro lado da sala ficava um ator pago (que o voluntário achava ser outro participante como ele). Esse ator tinha que decorar uma lista de palavras e repeti-la em voz alta.
Quando o ator errava, o examinador instruía o voluntário a apertar um dos botões para dar choques entre 15 e 450 volts no coitado.

Calma, o choque era falso. Mas o voluntário não sabia e o ator ficava gritando feito louco do outro lado, pedindo para parar.
Caso o voluntário se recusasse a dar o choque, o pesquisador insistia.
Quantos você acha que apertaram o botão? Uns 80%? Talvez mais?
Todos apertaram.
Todos.
Sendo que 66% deles aplicaram a voltagem máxima de 450v!
Quando perguntaram no fim do estudo por que eles fizeram isso, a resposta foi:
Eu só estava seguindo ordens.
O Aprisionamento de Stanford
Em 71, o professor Philip Zimbardo decidiu fazer um experimento parecido na Universidade de Stanford, na Califórnia. Ele fixou o anúncio mencionado no início do texto nas paredes da faculdade e saiu à procura de jovens que aceitassem ajudar em um experimento super de boas.
Uma prisão fictícia. 🚨
Era só ficar preso duas semanas e sair com o dimdim no bolso.
75 rapazes aceitaram participar e eles foram divididos em dois grupos: os carcereiros e os prisioneiros.
Prisão de verdade
Inacreditavelmente a polícia aceitou participar dessa bizarrice e realmente prendeu os jovens. Eles foram buscados de viatura em casa, algemados e levados de olhos vendados até o porão da Universidade, onde Zimbardo tinha transformado as salas em uma cadeia. 👮🏻♂️
Os guardas ganharam uniformes e cassetetes, enquanto os presos ganharam um gorro de náilon, uma camisa velha para ser usada sem roupa de baixo e correntes nos tornozelos.

A ideia era retirar o senso de identidade tanto dos presos quanto dos guardas. Se você troca de roupas e de papel na sociedade, talvez sua ética vá embora junto.
Para reforçar essa condição, os presos também perderam os nomes. Agora eram identificados apenas por números.
Os guardas receberam apenas uma ordem: não praticar violência física.
As demais violências estavam liberadas.
Só que os caras entraram mesmo no papel. O Bullying com os presos começou, ficando mais forte rapidamente.
Eles começaram a gritar com os presos e criar regras muito loucas, dizendo que deveriam ser chamados por determinados termos, dando punições para quem descumprisse, como flexões e abdominais, ou até cantar músicas humilhantes.
O Sadismo começou a escalar. Os guardas acordavam os presos no meio da noite e os impediam de dormir. Às vezes, não deixavam que eles fossem ao banheiro e os mandavam usar um balde na frente de todo mundo. Aqueles que não se comportavam eram levados até uma solitária, onde ficavam no escuro durante horas. 😵
Greve de fome
O preso número 416 se revoltou contra o tratamento recebido e decidiu fazer uma greve de fome. Como punição, ele foi enviado à solitária e foi obrigado a ficar segurando as salsichas que tinha se recusado a comer. Os guardas foram até os outros presos e ofereceram o seguinte acordo: nós liberamos o 416 da solitária, mas vocês precisam abrir mão das mantas para dormir. Se não aceitaram, vamos deixa-lo lá a noite toda.
Adivinhe só? Os presos preferiram ficar com as mantas.
Nesse momento, o professor Zimbardo interveio e mandou que o 416 saísse do castigo.
Aliás, o Zimbardo ficava atrás das paredes da prisão fake filmando tudo, acompanhando o experimento como uma espécie de BBB bizarro (embora o BBB real já seja bem bizarro, né?).
Em determinado momento, os presos começaram a planejar uma fuga, e Zimbardo entrou em contato com a polícia para transferir o experimento para uma cadeia de verdade, mas as autoridades não aceitaram. (Bizarrice tem limites, né profe!?).
Só que as coisas só pioravam e os estudantes não aguentavam mais, e começaram a ameaçar desistir do experimento. Porém, foi dito a eles que não receberiam nenhum centavo se saíssem antes da hora. 💸
Para não ficar sem nada, eles até tentaram seguir, mas a tensão se tornou insuportável e o próprio Zimbardo resolveu abortar a pesquisa logo no sexto dia!
Tudo tem limite
O aprisionamento de Stanford é um evento totalmente controverso. Afinal, é certo submeter seres humanos a esse tipo de humilhação em nome da ciência?
Além disso, vários problemas foram encontrados na pesquisa.
Descobriram que o Zimbardo manipulava o estudo para ter os resultados que ele queria. Os guardas eram estimulados a todo momento a ter um comportamento hostil (inclusive a ideia do balde para fazer as necessidades veio de um prisioneiro real que ajudava o professor na pesquisa).
Ou seja, ele contaminou o estudo. A maldade não nascia apenas do ambiente das ordens, mas também de um estímulo repetido para aplicação de violência.
E a maldade?
Como todas as questões humanas mais profundas, é difícil determinar de onde vem a maldade. Se eu pudesse dar um palpite, diria que ela não vem de um lugar só. É a junção de fatores ambientais, formação de caráter e predisposições psicológicas e espirituais.
E você, o que acha?
Manda seu feedback aí!
Bonus fact: Em 2006 a BBC financiou um grupo de psicólogos que replicaram o experimento da prisão, mas sem interferir como o Zimbardo fez. Os resultados foram muito diferentes, e alguns guardas tiveram dificuldade de impor sua autoridade.
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Até a próxima edição!